Por Raymond Colitt
BRASÍLIA (Reuters) - O Brasil reduziu em um terço as suas emissões de gases do efeito estufa nos últimos cinco anos e praticamente já atingiu sua meta de cortes para 2020, disse o governo na terça-feira, a um mês da conferência climática da ONU em Cancún.
Em meio a um crescente clima de pessimismo com a aprovação de um novo tratado climático durante o evento, o Brasil quer exibir seus esforços e pressionar outros países a fazerem o mesmo.
Acompanhando o avanço da sua economia, o Brasil tem tido também um papel cada vez mais ativo nas discussões climáticas nos últimos anos.
"Vamos para Cancún de cabeça erguida", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante uma cerimônia em que lançou um fundo climático financiado com dividendos do petróleo.
"Somos um dos poucos países que têm resultados concretos a mostrar nessa área", disse Lula.
O Brasil emitiu em 2009 1,78 bilhão de toneladas de dióxido de carbono (CO2) ou equivalentes, o que significa uma redução de 33,6 por cento em relação a 2004.
No ano passado, durante a conferência climática da ONU em Copenhague, o Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões para 1,7 bilhão de toneladas até 2020.
Durante muito tempo, considerou-se que o Brasil era um dos maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa, mas agora o país deve cair várias posições nesse ranking.
A maior parte da queda nas emissões se deve a uma redução substancial no desmatamento da Amazônia, que emite carbono quando da decomposição ou queima de árvores destruídas.
Nos últimos anos, o governo Lula tem intensificado a vigilância na floresta, reduzindo o desmatamento para cerca de 7.000 quilômetros quadrados no período 2008/09 -- bem abaixo do recorde de 27.379 quilômetros quadrados em 2003/04.
No mês que vem, o governo deve anunciar uma queda ainda maior no desmatamento da Amazônia no período 2009/2010, em torno de 29 por cento.
NOVOS DESAFIOS
Mas, com um crescimento econômico acima de 7 por cento ao ano, o Brasil enfrentará novos desafios para reduzir ou mesmo para manter seu nível de emissões nos próximos anos.
"Chegaremos a um ponto em que será difícil depender apenas do (combate ao) desmatamento para maiores reduções no carbono", disse Gilberto Câmara, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que mensura o desmatamento.
De fato, as autoridades dizem que o governo agora precisa intensificar o combate contra novas fontes de emissões.
"Avançamos muito nos últimos anos devido à redução do desmatamento da Amazônia. Mas precisamos reduzir o desmatamento em outras áreas e controlar as emissões de gases do efeito estufa na energia, agricultura e indústria", disse o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende.
Câmara, do Inpe, afirmou que a agricultura é um problema mais grave do que a indústria, já que 75 por cento da energia brasileira é hidrelétrica. Segundo ele, o metano emitido pelo processo digestivo de quase 200 milhões de cabeças de gado é um sério desafio, inclusive porque o metano tem maior ação no efeito estufa do que o CO2.